3ª série A

O COLONIALISMO NA ÁFRICA

Cidade de Berlim, 1885. Através das vidraças se percebe uma chuva fina. Mas dentro do palácio está quentinho e aconchegante. Representantes de 14 nações européias, mais os Estado Unidos, estão reunidos para decidir como será o futuro da África. Os homens sérios e elegantes debatem, civilizadamente, a partilha da África: qual país ficará com esse território? Aquela região é de quem? Pra que lugar a gente transfere aquela tribo? O mais chocante é que nenhum povo africano pôde enviar representantes. Na Conferência de Berlim fatiaram a África como um presunto e jamais consultaram seus habitantes. No calor da África, reinava a arrogância do inferno imperialista.
Os noticiários atuais sobre a África geralmente nos informam coisas ruins: fome, golpe de Estado sangrento, guerra civil. Por que acontece isso? Aí está o valor do estudo da História, pois é ele que nos revela as verdadeiras causas que estão por baixo dos fenômenos. Quando os europeus partilharam a África, não levaram em conta as necessidades dos povos que lá viviam. Aconteceu de um povo ficar dividido, metade numa colônia, metade na outra. Ou, então, na mesma colônia tiveram que conviver nações africanas rivais há séculos. Resultado: hoje, essas ex-colônias são países habitados por povos rivais que lutam entre si para estabelecer seu domínio. Daí os golpes de Estado e as guerras civis brutais tão constantes na África hoje.
E por que tanta fome na África? Bem, existem diversos motivos. Entretanto, não se deve esquecer que antes de os europeus chegarem à África não existia um problema desse nível. A população africana não era muito menos do que hoje, porque os séculos de escravidão e colonialismo retiraram ou mataram milhões de seres humanos adultos do continente. Na verdade, muitos povos africanos viviam numa economia comunitária, na qual todos plantavam, criavam animais, caçavam e mantinham um hábil artesanato. Quando os colonialistas europeus chegaram, trataram de tomar essas terras. No lugar da economia de subsistência que atendia à população, impuseram o sistema de plantation, ou seja, latifúndios monocultores visando ao mercado externo. Os povos só tiveram uma alternativa: trabalhar nos latifúndios implantados pela metrópole ou emigrar para o interior, para regiões semi-áridas, onde a seca torna quase impossível sobreviver.
Podemos perguntar: e o que os povos africanos fizeram diante dessa situação? Resistiram heroicamente, mas suas lanças e escudos não podiam enfrentar granadas, fuzis e canhões. A história do domínio colonial é a história das brutalidades. Aldeias invadidas e casas incendiadas junto com os moradores, metralhamento de nações inteiras, torturas que incluíam a amputação de um braço, tudo isso caracterizou a civilização européia. O melhor exemplo foi o do Congo Belga. Em 1876, os agentes a serviço do rei Leopoldo II da Bélgica tomaram posse do Congo. Isso mesmo, uma região dez vezes maior do que a Bélgica passou a ser propriedade particular de um único sujeito. Assim ficou até 1908, quando o rei, um grande patriota, vendeu o território para o governo belga – por uma bela quantia patriótica, é claro. A vida de um nativo no Congo era um verdadeiro inferno da Terra. As aldeias pagavam impostos enormes em marfim e borracha. Nas minas reais, os homens trabalhavam nus sob o chicote dos feitores. Exploração criminosa que provocou a morte de milhões de seres humanos. A exploração da borracha foi irracional: em vez de talhar as árvores para extrair o látex, arrancavam tudo. Depois de alguns anos, quase não havia mais a fonte de matéria prima. As autoridades coloniais européias então exigiam mais trabalho, incessantemente, e puniam os desobedientes.
Quem é que, sabendo disso, pode considerar os povos africanos como os principais responsáveis por sua miséria atual? Alguns economistas e sociólogos de esquerda perguntam: não está na hora de o mundo pobre cobrar as dívidas do Primeiro Mundo?